11luas

Espaço de interação sobre o Belo e o Sublime, aventuras, arte, poesia, romance e espiritualidade. Tudo é bem vindo desde que seja para compartilhar a beleza e o 'algo mais' do existir.

sábado, agosto 07, 2010

"BALADA PARA UMA RAPARIGA DO IRÃO"

Estava o dia por um fio;

preso a ele, a tênue linha

que separa-une, une-separa

o entardecer da noite,

a noite da tarde:

delicados e mágicos matizes.


E na primavera lusitana,

cá como no Brasil

ou em terras tão distantes como a tua,

é lindo este espectáculo de cores:

os tons apastelados e sóbrios

são renovados por cores alegres e fortes.


E nesta mistura prendem-se tons e vozes.

As pessoas parecem despertar

de um longo e tenebroso inverno:

já não ocultam as suas emoções,

deixam jorrar livremente suas alegrias e fantasias.

Risos e gargalhadas dão luz ao ambiente.


No vai e vem da lisboeta cidade

é intenso o ir e vir,

automóveis de todas as marcas e condições,

pessoas de todas as raças e culturas,

aprendizes de mileum ofícios e executivos:

minha retina não consegue captá-los todos.


Nesta atmosfera de democracia e liberdade

acolho teu semblante neste olhar,

misto de tristeza e alegria talvez,

mas carregado de saudade e soledade.

A próxima estação é anunciada

e na dispersão, sabemos: nunca mais nos veremos.


É cruel as vezes a vida, rapariga do Irão.

Nestes cinco a sete minutos partilhados,

ninguém no Metro ouviu o nosso diálogo,

mas acredite: as palavras que nossos olhares trocaram,

à milhares de anônimos como nós, tu e eu,

nesta bela tarde primaveril, como bálsamo cairiam.


És muito bela, garota!

Teu chador e o hábito pouco me revelam de ti.

Mas os olhos, este sorriso imberbe,

as pêras, tâmaras e maçãs do teu rosto,

radiografam-me teu estado de ser.


A t-shirt pendurada orgulhosa na bolsa MADE IN TEHERAN,

a Pérsia nossa esquecida, os aiatolás,

fazem indagar a razão de meu existir.

Recordo-me um Kiarostami cuja película

fez-me com que jamais fosse o mesmo após esse filme.


Os conflictos que o mundo vive,

que interiormente vivemos,

a busca de um significado maior para ser e existir,

a lágrima que discreta cai de teu rosto:

para onde vamos rapariga iraniana?


Admiro tua coragem por aqui estar.

Desconheço teu passado, mas não o teu presente:

todos olham surpresos para ti, és rara:

mulher, árabe, jovem, estudante e bonita.

Teu olhar me gera compaixão...


E nesta conversa mental toda, surge a fome:

quero te traduzir em versos-alimentos

os ensaios elucubrados nesta já noite.

Na linguagem do riso, do girassol e da amizade.

E grafar no teu coração esta ônzima que leva o teu nome...

( Joubert 11luas )

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